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13º Congresso Gife reforça a urgência de desconcentrar poder, conhecimento e riquezas para promover equidade

Realizado em Fortaleza (CE) entre 7 e 9 de maio, o 13° Congresso Gife reuniu especialistas, lideranças e organizações do campo do Investimento Social Privado (ISP) e filantropia para debater caminhos em direção a uma sociedade mais justa.

 

Com o tema Desconcentrar poder, conhecimento e riquezas, o evento destacou a necessidade de redistribuir recursos, ampliar vozes periféricas e combater desigualdades estruturais.

 

A Fundação Tide Setubal marcou presença com três representantes em painéis estratégicos, reforçando então o seu compromisso com a transformação social a partir das periferias. “O Congresso Gife é um momento de encontro com diferentes atores do campo, onde é possível conhecer e reconhecer avanços e desafios, similaridades e divergências, formando uma fotografia para pensar a atuação e a renovação necessária para o ISP com construções conjuntas e compartilhadas”, comenta Fernanda Nobre, gerente de Comunicação da Fundação Tide Setubal.

 

Repensar o futuro da filantropia: o mote do 13° Congresso Gife

Escolhida por sua relevância no cenário do impacto social, Fortaleza, capital cearense, sediou debates sobre temas urgentes, desde a concentração de poder nas Big Techs até modelos participativos de financiamento. Com mais de 25 mesas, o 13° Congresso Gife abordou, então, como o ISP pode enfrentar desafios como racismo, machismo e mudanças climáticas, priorizando territórios, escuta ativa e governança democrática.

 

“A filantropia precisa sair da lógica de ‘salvadora da pátria’ e reconhecer que as soluções já existem nas comunidades”, destacou Joaquim Melo, fundador do Banco Palmas, durante um dos painéis. A escolha da região Nordeste como sede não foi aleatória. Afinal, a região concentra redes de investimento social em expansão, tornando-se laboratório para iniciativas que combatem desigualdades a partir de realidades locais.

 

Sobre revisão de estruturas

Nesse sentido, a descentralização das instâncias de debate sobre a atuação do ISP deve valer também para aspectos organizacionais. Dentro dessa lógica, William Luz, analista de comunicação da Fundação Tide Setubal, destacou que a importância do 13° Congresso Gife vai além da possibilidade de haver networking entre profissionais do campo da filantropia.

 

“O 13° Congresso Gife nos ajuda a termos visão cada vez mais completa sobre o ecossistema do ISP, sobre quais são as discussões mais quentes e as discussões que são mais necessárias de se fazer no campo no momento. É importante também para vermos, por meio dos exemplos de nossos pares e de outras organizações, o que ainda podemos avançar e o quanto avançamos seja como campo e como organização”, pondera o analista de Comunicação da Fundação Tide Setubal.

 

Além disso, William destacou uma medida adotada pela Fundação no 13° Congresso Gife que reflete um aspecto estrutural da própria organização e um ponto para reflexão dentro do ISP. Esse ponto a pela introdução em espaços como o do evento de profissionais que não façam parte de instâncias decisórias. Isso possibilita, afinal, a ocorrência de mudanças de paradigmas institucionais. “Foi significativo por parte da Fundação levar não apenas lideranças, mas também um analista para acompanhar o Congresso. É muito importante que se consiga disseminar a visão do que acontece no ISP em toda [a estrutura] da organização, não apenas na liderança.”

 

 

No centro do debate: território, equidade e fomento

Com experiência de atuação em periferias urbanas, a Fundação Tide Setubal participou de painéis estratégicos. Mariana Almeida, diretora executiva, participou da plenária A escuta do território como vetor democrático de transformação social Estiveram ao lado dela lideranças como Benilda Brito (Coletivo Nzinga) e Kaká Werá (escritor indígena).

 

“O ISP tradicionalmente se desenvolveu com a busca por segmentação de causas. Essa lógica vai na contramão da integração, e o território é integração, são múltiplas causas”, explicou Mariana. “Quando você se compromete no longo prazo com o território, também compromete-se com flexibilidade na tomada de decisão, acompanhando processos de escuta e priorização que o próprio território traz. Isso quebra mecanismos de monitoramento tradicionais, guiados por métricas setoriais.”

 

Mariana exemplificou com o caso do Jardim Lapena, bairro da zona leste da capital paulista onde funciona o Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal.

 

“Uma pessoa que participava do Plano de Bairro identificou uma solução para alagamentos que nem a prefeitura havia vislumbrado. Trouxemos, então, engenheiros para testá-la. É o conhecimento endógeno: a vida no território gera soluções que precisam ser horizontalizadas. Conforme você entende que a população local e as organizações locais são o eixo condutor e devem ser protagonistas da elaboração, da articulação e da implementação de tudo que a gente faz, é uma reafirmação de que o conhecimento precisa estar em todas as partes e que a grande liberdade e evolução só pode vir do encontro, de aproveitar esse encontro.”

 

Participação de Mariana Almeida no 13° Congresso Gife.

Participação de Mariana Almeida no 13° Congresso Gife

 

Caminhos pela equidade: como o ISP tem construído políticas internas de diversidade e inclusão 

Durante sua participação na mesa Caminhos pela equidade: como o ISP tem construído políticas internas de diversidade e inclusão, Viviane Soranso, coordenadora do Programa Lideranças Negras e Oportunidades de o da Fundação, levou então algumas reflexões para o debate.

 

“Na mesa de abertura, Benilda Brito alertou que ‘Band-Aids não curam fraturas expostas. Assim sendo, essa frase sintetiza com precisão o desafio do ISP diante da urgência racial. Para enfrentar isso criamos, na Fundação, um Comitê de Diversidade, cotas de 50% para pessoas negras em processos seletivos e um Canal de Acolhimento para denúncias”, destacou.

 

“A equidade racial exige intencionalidade: formação contínua em letramento racial, escuta de vozes negras e dados desagregados. Não basta ter projetos pontuais se a governança permanece branca.”

 

Sobre os desafios, Soranso é enfática. “O ISP precisa operar em três dimensões: interna, relacional e externa. Isso inclui revisar critérios de fomento, cocriar com lideranças periféricas e redistribuir poder – inclusive financeiro – para comunidades.”

 

Viviane Soranso durante o 13° Congresso Gife

Viviane Soranso durante o 13° Congresso Gife

 

Modelos participativos de doação e financiamento: desafios e potências para a redistribuição de poder, conhecimento e riquezas

No campo do financiamento, Guiné Silva, coordenador de Fomento a Agentes e Causas, participou do encontro Modelos participativos de doação e financiamento: desafios e potências para a redistribuição de poder, conhecimento e riquezas. Em suas falas, Guiné pôde compartilhar a exitosa participação da Fundação Tide Setubal com os fomentos a projetos de territórios periféricos.

 

“A Fundação tem trabalhado para reduzir os desequilíbrios na relação de poder com as organizações apoiadas através de uma abordagem de fomento que prioriza a confiança e a parceria em vez de estruturas rígidas e excessivamente burocráticas. Substituímos editais cheios de amarras por chamadas via WhatsApp e prestação de contas simplificadas. Reamos 30% do valor antecipado, pois OSCs precisam comprar materiais antes de executar”, explicou.

 

“Precisamos de ferramentas que questionem práticas tradicionais, incentivando recursos diretos para comunidades. É sobre desburocratizar e construir confiança.”

 

Territórios de apoios

A importância do território para potencialização dos efeitos dos apoios teve papel central durante o 13° Congresso Gife. Afinal, trata-se da base para haver uma sociedade inclusiva, diversa e democrática. Nesse sentido, a chave está no apoio à potência em vertentes diversas, ando pela construção de saberes e pela produção artística, de agentes que vivem nesses espaços. Contudo, a falta de dinheiro é uma barreira para o potencial dos territórios vir à tona.

 

“O que falta é grana — e muita. Grana para o médio e longo prazo, para planejar o futuro e construir soluções estruturais – não apenas apagar incêndios no dia a dia. Como se ouve nas quebradas: muitas vezes, é vender o almoço para comprar a janta. Isso segue sendo verdade e isso é o que continuaremos a dizer: apostar, investir e transformar territórios historicamente vulnerabilizados requer muito investimento, consistência e paciência”, reforça Marcelo Ribeiro Silva, gerente de Projetos Estratégicos da área de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal.

 

Ainda dentro dessa lógica, Marcelo reforça o fato de que temas que não são debatidos e conversados inexistem no espaço público. Desse modo, é urgente colocar em pauta a liberdade para populações das periferias poderem imaginar e planejar o próprio futuro. “É esse o chamado que levamos ao 13° Congresso Gife. Investir nos territórios não é somente sobre resolver problemas: é sobre abrir caminhos para que as periferias protagonizem seu próprio amanhã.”

 

Legados e próximos os: o ISP como agente de transformação

O 13° Congresso Gife reforçou a necessidade de dados desagregados por raça e gênero e transparência na alocação de recursos. Para a Fundação Tide Setubal, os aprendizados destacam, por fim:

 

  • Priorizar fundos territoriais com rees diretos a OSCs de base;
  • Fortalecer políticas internas, como análise racial de impacto em todas as ações;
  • Articular redes para incidência em políticas públicas, como editais com cotas para organizações negras.

 

“Estamos em um momento de ruptura. Ou o ISP assume seu papel na reparação histórica, cedendo espaços de decisão e recursos, ou continuará reproduzindo desigualdades. A experiência da Fundação mostra que a transformação é possível, mas exige coragem institucional, disposição para o desconforto e prática constante de revisão crítica”, conclui Viviane.

 

 

Por Daniel Ciasca

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