Lab Enfrente de Ancestrais do Futuro impulsiona a quinta temporada da websérie com tema “Juventudes e Fé”
Formação do Lab Enfrente une técnicas audiovisuais e narrativas territoriais para explorar a fé como mobilizadora de ações coletivas; projeto já apoiou mais de 20 coletivas periféricas em quatro edições


Com o tema Juventudes e Fé, a quinta temporada da websérie Ancestrais do Futuro promove um mergulho nas formas como a espiritualidade se entrelaça com a construção de redes solidárias, acolhimento e transformação social nas periferias. A nova edição, realizada pela Fundação Tide Setubal, começando pelo Lab Enfrente, combina sete masterclasses gratuitas com profissionais do audiovisual.
Após essa etapa, as coletivas deverão inscrever os seus projetos para participar da websérie e, após a seleção, cinco coletivas serão escolhidas e receberão apoio financeiro de R$ 20 mil. “Este é o tema mais desafiador que o Lab Enfrente propõe desde a sua criação”, afirma Tony Marlon, um dos coordenadores do ciclo de masterclasses. “A manifestação de fé é algo subjetivo, mas também coletivo e, por isso, precisamos pensar como trabalhar com isso sem limites narrativos.”
Lab Enfrente: Mais que técnica, um espaço de trocas territoriais
De 23 de abril a 2 de junho, coletivas de todo o Brasil participam de encontros online, por meio do Lab Enfrente, sobre roteiro, direção, fotografia, som, distribuição e financiamento. Fernanda Nobre, gerente de comunicação da Fundação, se entusiasma ao falar dessa nova edição.
“Estamos consolidando um jeito de fazer que cada ano tem se aperfeiçoado e produzido resultados emocionantes. Olhando temporada a temporada podemos notar o quanto a metodologia do Lab tem sido fundamental para que cada coletiva se sinta instigada a retratar suas realidades em produtos audiovisuais relevantes.”
Assim sendo, para Tony, é justamente a metodologia colaborativa o diferencial da iniciativa. “Não trazemos fórmulas prontas. Convidamos profissionais que produzem com excelência a partir de seus territórios para compartilhar não só técnicas, mas seus olhares únicos.”
Entre as pessoas facilitadoras do Lab Enfrente estão cineastas periféricas que já dirigiram curtas premiados e coletivas que transformaram realidades locais por meio do audiovisual. A ideia é que as aulas sirvam como “disparadores criativos”. “Nesse processo, tentamos criar um ambiente em que o próprio grupo vai construindo qual tipo de encontro gostaria de ter e quais trocas estão disponíveis a fazer”, explica Marlon.
O cronograma inclui ainda discussões sobre distribuição estratégica, com foco em redes sociais e exibições comunitárias. “Não adianta fazer um filme incrível se ele não chega às pessoas. Pensamos em como criar peças para Instagram, organizar debates em escolas e até negociar espaços públicos”, complementa.
Sobre compartilhar saberes e vivências
Uma das aulas, sobre distribuição, contou com a participação de Andrey Haag, da coletiva Olhar Marginal. O grupo da Baixada Santista de São Paulo fez parte da terceira temporada de Ancestrais do Futuro, ao produzir o curta-metragem Neurótico & Consciente.
Ao traçar paralelos sobre o momento em que a Olhar Marginal participou da edição 2023 do Lab Enfrente com o retorno – mas agora do outro lado do balcão -, Andrey destaca as mudanças pelas quais a coletiva ou nesse contexto.
“Participar do Lab Enfrente mudou completamente a nossa visão sobre o que é cinema e o impacto do que as quebradas estão produzindo na sociedade. É sobre nós nos arriscarmos e testarmos coisas, mas com apoio e es. Poder voltar e rear o que deu certo dentro do nosso processo para novas turmas é gratificante demais. Como diz Emicida, ‘É voltar e repartir’”, destaca.
Juventudes e Fé: Por que este tema define a temporada mais ousada da websérie?
Desde 2021, a websérie Ancestrais do Futuro revelou histórias de resistência e inovação a partir dos quatro eixos a seguir:
- Juventudes, Política e Territórios (primeira temporada)
- Sonhar o Futuro (segunda temporada)
- Memória e Ancestralidades (terceira temporada)
- Ideias para adiar o fim do mundo (quarta temporada)
Agora, para a quinta temporada, a fé surge não como dogma, mas como fenômeno em movimento. Nesse sentido, a fé no Brasil é plural. Está no terreiro que virou centro de vacinação na pandemia, no grupo evangélico que distribui comida nas ruas, no jovem que une rap e meditação. O objetivo é investigar como essas expressões fortalecem o bem comum. Trata-se de um tema que ecoa, então, no estudo Global Religion 2023: 89% dos brasileiros acreditam em um “poder superior”, mas apenas 23% seguem uma religião formal.
Para as coletivas, o desafio é traduzir essa complexidade em narrativas visuais. Para tanto, um dos vetores para fazê-lo está na liberdade criativa oferecida pelo edital: os R$ 20 mil podem ser usados para pagar equipes, reformar espaços ou comprar equipamentos, desde que o episódio seja entregue até setembro.
Das masterclasses às telas: o caminho para amplificar vozes periféricas
Além da formação técnica, o Lab Enfrente prioriza a construção de redes. “Cada turma cria sua própria dinâmica. Algumas trocam contatos para futuras parcerias; outras usam o grupo para s constantes”, diz Tony. A estratégia de divulgação também é cuidada: o lançamento dos episódios acontecerá no canal Enfrente (YouTube). A divulgação, vale dizer, contará com Reels e posts criados pelas próprias coletivas.
“Ancestrais do Futuro mostra que comunicar uma causa é oportunidade para instituições do campo do investimento social privado apoiarem expressões múltiplas vinda dos territórios. É uma ação pelo direito das comunidades contarem suas histórias. Quando fazemos isso envolvendo as comunidades de diferentes regiões do país e elas, por si só, formam redes, se fortalecem e produzem com toda sua potencialidade, sentimos que estamos no bom caminho. É sempre um acalanto no coração”, arremata Fernanda.
Por fim, o projeto ainda exige que cada grupo realize duas exibições presenciais em seus territórios. Tony Marlon já havia destacado tais aspectos em temporadas adas. “Não queremos somente histórias sobre as periferias, mas feitas por elas. Quando uma mina do Grajaú dirige um filme sobre fé e empreendedorismo, ela inspira outras a ocuparem esse lugar.”
Por Daniel Ciasca