Projeto Asas desenvolve lideranças nas periferias
Por Daniel Cerqueira Diante da dificuldade que o Brasil tem de criar condições para a formação de um ambiente de lideranças com diversidade racial, perpetuando a desigualdade pela não inserção de negros e negras nos espaços de tomada de decisão, a Fundação Tide Setubal desenvolveu a Plataforma Alas (Apoio ao Desenvolvimento de Lideranças […]


Por Daniel Cerqueira
Diante da dificuldade que o Brasil tem de criar condições para a formação de um ambiente de lideranças com diversidade racial, perpetuando a desigualdade pela não inserção de negros e negras nos espaços de tomada de decisão, a Fundação Tide Setubal desenvolveu a Plataforma Alas (Apoio ao Desenvolvimento de Lideranças Negras). Uma de suas estratégias, Projeto Asas, acaba de ser lançada na zona leste de São Paulo, e será realizada no Jardim Lapena, onde a Fundação está presente há anos com o Galpão ZL, um espaço de inovação, cultura e empreendedorismo. A proposta nasce com o intuito de despertar o interesse no conhecimento e no exercício da liderança em adolescentes e jovens das periferias.
Uma característica marcante das áreas periféricas das grandes cidades é a relação das juventudes com o mundo do trabalho. Para os jovens negros brasileiros de origem periférica, a entrada precoce no trabalho é, muitas vezes, a única alternativa. Segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 44% dos jovens começam a trabalhar ainda com 14 anos. Na maioria das vezes, a ocupação que conseguem é informal, precário e paga pouco.
Para Marcelo Ribeiro, coordenador de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação, “a gente precisa desenvolver uma qualificação para a inserção no mercado de trabalho, de forma a fomentar nas juventudes a compreensão do seu lugar na cidadania ativa e dar a elas uma nova dimensão sobre o trabalho.”
A estratégia visa romper com esses ciclos de exclusão das famílias periféricas e alimentar novos sonhos e perspectivas de jovens negros, para que eles possam, no futuro, assumir espaços de liderança em diferentes segmentos da sociedade. Durante sete meses, 20 jovens selecionados pela Fundação e a Associação Vida Jovem receberão uma bolsa mensal de R$ 500 e arão por atividades que contemplam jornadas formativas, vivências culturais e curso de idiomas. Essas ações os provocarão a pensar também na melhoria do bairro onde vivem.
Uma estratégia dentro de uma Plataforma
O Projeto Asas é uma estratégia dentro de uma ampla plataforma colaborativa criada pela Fundação Tide Setubal, denominada Alas, cujo desejo é formar e fortalecer lideranças negras no Brasil. Isso porque o país é um dos mais marcados pela escravidão, que esteve vigente em solo nacional entre os séculos 16 e 19. Nenhum outro lugar do mundo recebeu tantas pessoas africanas escravizadas: foram cerca de 3,9 milhões de pessoas, mais de 12 vezes o total de africanos levados à força para os EUA, por exemplo.
Este ado colonial deixou fortes marcas até hoje. Embora mais da metade (54%) da população seja negra – formada por pretos e pardos, segundo classificação do IBGE -, o racismo estrutural se apresenta das mais diversas formas em dinâmicas identitárias, de relações sociais e institucionais. Apesar do avanço recente das políticas de ação afirmativa, apenas 35,4% dos jovens negros chegam ao ensino superior.
Nesse contexto, criar um ambiente em que possam surgir lideranças negras a não apenas por garantir condições de formação, mas também por um processo de reencantamento do sentido do trabalho para pessoas negras. A plataforma será, então, voltada à atuação em três frentes:
- Nos territórios periféricos, por meio do Projeto Asas;
- Desde a articulação de oportunidades para pessoas negras de origem periférica a cursos e programas de formação de lideranças no setor privado, gestão pública, carreiras jurídicas e de magistério e liderança política, com a estratégia Elos;
- Nas articulações de reconhecimento e apoio financeiro para lideranças negras aprimorarem suas habilidades e competências nas áreas de política institucional, empreendedorismo, carreira corporativa e ações sociais, culturais e/ou artísticas, por meio do Edital Caminhos.
Para Viviane Soranso, coordenadora do Programa Raça e Gênero da Fundação, a Plataforma Alas é “a oportunidade de rompermos com esse ciclo de exclusão da população negra, que dificulta o seu o a cargos de responsabilidade e de melhor remuneração e, consequentemente, impede a mobilidade social e a formação de novas lideranças.”